A Roupa de Astronauta
- Adenilson Barcelos de Miranda
- 17 de mar.
- 2 min de leitura

Acordou, e sua mente estava cheia de um turbilhão de pensamentos. O sol ainda não havia iluminado a casa, mas a luz que a mente emanava parecia ser suficiente para iluminar as perguntas que surgiam. Ele ficou ali, imóvel, de olhos fechados, tentando ordenar as ideias. Uma questão simples, mas ao mesmo tempo, tão imensa: O que sou?
O corpo, a "roupa de astronauta", como gostava de pensar, parecia limitar o que poderia ser. Ele sabia que algo maior, algo além do físico, estava lá, habitando a carne. Algo que não podia ser capturado por nenhum microscópio ou equipamento. O que ele era, então? A carne? Ou a consciência que a habita? O que faz o ser, o ser?
A percepção que tinha do mundo parecia, em muitos momentos, ser uma realidade distorcida. Ele sabia que seus olhos, seus ouvidos, sua pele, tudo isso filtrava a realidade em que vivia, limitando-o. Ele se perguntava se não seria como um rádio sintonizado em uma única frequência, incapaz de ouvir o restante da vasta gama de ondas que cruzavam o universo. Não seria isso o que chamamos de "vida"? Um mero ajuste, uma sintonia momentânea de algo muito maior?
E o que dizer da inteligência? Ele pensava em como havia sido criada a inteligência artificial, talvez o desejo da Criatura se tornar o Deus que tanto contesta. Mas, no fundo, ele sabia que a IA não era vida. Ela processava informações, mas não tinha experiência subjetiva. Era como uma cadeira: algo construído, mas não a essência de quem a construiu.
Era curioso, pensou, como a vida se manifestava de tantas formas, mas sem se resumir à inteligência ou ao corpo físico. O que estava além disso? Ele não tinha respostas, apenas perguntas. O corpo humano, afinal, era apenas um meio para viver essa realidade tridimensional, não a única realidade. E a consciência? Ela poderia estar em outros lugares, em outros meios, em outras formas. Talvez ele fosse apenas uma centelha em algo muito maior e mais complexo.
Foi quando, com um leve sorriso, ele se deu conta de algo: não se tratava de saber o que a vida era, mas o que a vida estava tentando ser. Talvez a verdadeira questão fosse como a vida se manifestava e evoluía, não como um fim, mas como um processo. Talvez o caminho não fosse sobre encontrar respostas definitivas, mas sobre expandir nossa percepção do que está além de nós. E, talvez, ao longo dessa jornada, cada experiência fosse uma forma de revelar uma faceta oculta daquilo que ainda está por vir.
Ele se levantou da cama. O mundo ainda estava em silêncio, mas algo dentro dele parecia mais claro. Ele não precisava ter todas as respostas agora. Talvez a busca pela verdade fosse o que tornava tudo tão real. E, enquanto isso, ele continuaria a explorar o pensamento na "roupa de astronauta" que vestia, ciente de que havia mais na vida do que poderia ver, ouvir ou tocar.
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