
História
A pesquisa em História constitui-se como um instrumento de compreensão e interpretação do passado, permitindo analisar as experiências humanas em diferentes tempos e espaços. Mais do que uma mera reconstrução cronológica de fatos, ela busca problematizar as relações sociais, culturais, políticas e econômicas que moldaram a realidade, trazendo os mecanismos de poder, os processos de resistência e as formas de produção de cultura.
Linha de pesquisa: Cultura e Poder
Tanto no âmbito do mestrado quanto no doutorado, a minha trajetória acadêmica está vinculada à linha de pesquisa "Cultura e Poder", que se caracteriza pela investigação das formas como diferentes grupos sociais constroem suas identidades, estabelecem relações de resistência e disputam espaços no interior das dinâmicas políticas, sociais e históricas.
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No mestrado, pesquisei os Gavião, denominação atribuída a diferentes comunidades indígenas do curso médio do rio Tocantins — os atuais Akrãtikatêjê, Kỳikatêjê e Parkatêjê — localizados na mesorregião do Sudeste Paraense, na Terra Indígena Mãe Maria. O estudo teve como objetivo analisar sua diáspora, os contatos estabelecidos com a sociedade envolvente e, sobretudo, os processos de resistência frente às invasões territoriais e às políticas de exploração econômica. Buscou-se evidenciar como as práticas culturais e políticas Timbira se articularam diante das pressões externas, revelando um campo de disputas em que o poder do Estado e o Programa Grande Carajás — constituído por projetos de extração, transformação e beneficiamento mineral, associados à produção energética e às infraestruturas logísticas e de comunicação — confrontaram-se com a força da resistência indígena organizada.
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Já no doutorado, a investigação se desloca para o campo da Saúde Digital, tomando como referência os Núcleos de Telessaúde no Brasil, instituídos no âmbito das instituições públicas de ensino superior, federais e estaduais, e suas contribuições para a transformação digital do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse contexto, a pesquisa busca compreender de que modo políticas públicas, práticas de inovação e tecnologias digitais se articulam no espaço de poder e de produção cultural, configurando novos arranjos entre Estado, sociedade e os sujeitos do cuidado em saúde.
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Assim, embora em temas distintos, as duas pesquisas se encontram na mesma perspectiva teórica: a análise das relações entre cultura e poder, seja na resistência dos povos indígenas à dominação de suas terras, seja na construção de modelos digitais que reconfiguram o acesso e a gestão em saúde no Brasil contemporâneo. Nesse percurso, os povos tradicionais, em especial os indígenas, constituem referência central. No mestrado, os Gavião foram analisados em sua luta contra a espoliação territorial e os projetos de exploração econômica; no doutorado, a investigação sobre os Núcleos de Telessaúde considera como as políticas de Saúde Digital repercutem sobre comunidades que incluem populações indígenas e outros grupos historicamente marginalizados. Em ambos os casos, os indígenas não aparecem apenas como receptores passivos de políticas ou impactos externos, mas como sujeitos ativos, que elaboram estratégias de resistência, de apropriação e de ressignificação cultural diante das forças políticas, econômicas e tecnológicas que incidem sobre seus corpos e modos de vida.


