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O Esquecimento de Teresa

  • Foto do escritor: Adenilson Barcelos de Miranda
    Adenilson Barcelos de Miranda
  • 5 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Teresa tem a pele branca, e seus cabelos escuros e ondulados molduram seu rosto. Seus óculos fazem o mesmo por seus olhos, verdes como a promessa de uma tarde chuvosa para as folhas de uma árvore, ou talvez como o mel que se torna âmbar ao toque da luz. A cor dos olhos de Teresa, no entanto, não é fixa; ela muda e dança conforme a luz ou até mesmo conforme o seu humor permite


O que vê no espelho é sempre mais do que o simples reflexo – são as nuances de sua própria alma. Há algo intrigante na maneira como Teresa observa o mundo, algo que nos remete aos retratos de Modigliani. Assim como as figuras alongadas e misteriosas que ele pintava, Teresa é uma mulher que transcende sua aparência física.


Mulher com gravata preta, 1917. Amadeo Modigliani.

Ela sabe, de um jeito que poucos sabem, que a cor dos objetos é apenas a cor que eles rejeitam, o comprimento de onda que recusam absorver. O verde dos seus olhos, então, não era verde, mas a soma de todas as outras cores que não quiseram ficar. Teresa compreende essas sutilezas, e talvez por isso que, ao se olhar no espelho, ela sempre vê mais do que o seu próprio rosto; ela consegue ver os matizes de suas emoções, a vibração silenciosa de cada pensamento que atravessava sua mente.


Recentemente, Teresa esteve em Belém. Voltou de lá com um pequeno presente – um bombom artesanal de castanha, cuja simplicidade carregava uma expressão de afeto. Colocou-o sobre a mesa, onde trabalho, como uma promessa de partilha, mas, na mesma mesa, esqueceu o crachá, um item aparentemente trivial, mas carregado de identidade. Na correria do dia a dia, o esquecimento tornou-se uma espécie de marca, uma ironia sutil. No dia seguinte, ao chegar no trabalho, lá estava o crachá, solitário e revelador sobre a mesa onde trabalho. Sua foto olhava para mim com uma serenidade inabalável, como se dissesse: "Esquecer também é lembrar."


Esquecer, na verdade, é um ato de seleção, um filtro pelo qual deixamos passar o que queremos trazer à tona. Talvez Teresa soubesse disso. Talvez, ao esquecer o crachá, ela quisesse nos lembrar – a nós e a si mesma – que há uma diferença entre ver e olhar. Ver é perceber o que está diante dos olhos; olhar é compreender as camadas invisíveis que se escondem por trás da superfície. Teresa entendia essa diferença.


Ela sabe que os olhos, moldurados pelos óculos, refletem mais do que luz; refletem a complexidade do ser. E assim, ao olhar sua foto no crachá esquecido, não vê apenas um rosto conhecido. Teresa em toda a sua profundidade, ao esquecer, nos ensina a lembrar – e a olhar além do que é visível, tal como um quadro de Modigliani, onde cada traço e cada cor nos convida a enxergar a alma do retratado, a descobrir as nuances que se escondem na simplicidade aparente.

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© 2024 por adenilson.barcelos.de.miranda.

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