Cartografias da Saúde Digital: O que Aprendi no Congresso de Internacional de Políticas Públicas em Saúde na Era da Informação
- Adenilson Barcelos de Miranda
- 7 de dez.
- 3 min de leitura

O Congresso Internacional de Políticas Públicas em Saúde na Era da Informação: Evidências, Letramento e Inovação, realizado de 2 a 5 de dezembro de 2025, em Brasília, consolidou-se como fórum de referência no campo da saúde pública. Promovido pela Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EPPG), o evento deu continuidade à sua primeira edição, ocorrida em 2024.
Nos últimos dias, revisitei alguns dos estudos apresentados no Congresso, cada um revelando, à sua maneira, como a transformação digital vem redesenhando práticas, subjetividades e modos de produzir cuidado no âmbito do SUS.
Como pesquisador e doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), propus-me, por meio de um artigo, a refletir sobre a Saúde Digital na Amazônia, especialmente em Parintins. As pesquisas apresentadas no Congresso, no dia 04, durante a Sessão 16 - Saúde Digital e Acesso à Informação, dialogaram, direta ou indiretamente, com questões que também investigo. Compartilho aqui um breve panorama das contribuições que mais me chamaram atenção e que foram conduzidas pelo professor Fabian Calixto Fraiz, moderador da mesa.
O primeiro estudo, é o de Samara Oliveira Leite Bandeira e colegas, Comunicação digital e tradução do conhecimento como caminho para democratização do acesso à saúde, que desenvolveram no âmbito do Laboratório de Educação, Informação e Comunicação em Saúde (ECos), que integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em Informação e Comunicação em Saúde Coletiva - CNPq Brasil, criado em 2009 e reconhecido pela Universidade de Brasília (UnB). Aqui, a inovação é pensada como prática comunicacional. A equipe discute como redes sociais, plataformas digitais e estratégias de tradução do conhecimento são fundamentais para reduzir desigualdades e ampliar o acesso a informações confiáveis. Em tempos de "infodemia", o trabalho mostra como comunicar bem pode ser tão decisivo quanto diagnosticar.
Em seguida, apresentei A Contra-história da Telesaúde: biopolítica, sujeitos e saberes em Parintins (AM), estudo que desenvolvi a partir de um processo de qualificação de profissionais de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena de Parintins (DSEI-Parintins), articulado a uma experiência etnográfica registrada em meu caderno de campo. Nele, busco compreender como a Saúde Digital, além de política pública, tornou-se um dispositivo biopolítico capaz de reorganizar saberes, disciplinar práticas e criar novos sujeitos da Saúde Digital. Não se trata apenas de tecnologia, mas de disputas por narrativas, territórios e modos de existir na Amazônia profunda. A contra-história, nesse caso, emerge das margens, dos agentes de saúde, dos trabalhadores que, no cotidiano, reconfiguram o que o Estado propõe.
Em diálogo com essa perspectiva, o trabalho de Vanilda de Oliveira Coelho e Eliane Vieira da Costa, intitulado Inovações em Saúde e as Contratações em Hospitais de Ensino do Sistema Público (SUS), mostra como a inovação se materializa nos bastidores institucionais. As autoras analisam como hospitais de ensino têm reconfigurado modelos de contratação e gestão para incorporar tecnologias, metodologias inovadoras e novas dinâmicas de trabalho. É um estudo que evidencia a importância da governança e dos arranjos administrativos para que a inovação realmente alcance a ponta.
Por fim, o estudo Análise do letramento digital em saúde de idosos na atenção primária do Distrito Federal, de Ana Luiza Martins Costa dos Santos e Ana Clara Gonçalves Madeiro, traz uma questão que considero central para o futuro do SUS Digital: a inclusão. As autoras investigam como idosos lidam com dispositivos, aplicativos e informações digitais no contexto da atenção básica. Seus achados revelam que o avanço tecnológico não pode caminhar sem estratégias pedagógicas, acolhimento e políticas voltadas à equidade digital.

Em conjunto, esses trabalhos ajudam a compor um mosaico da Saúde Digital brasileira: uma área viva, complexa e atravessada por disputas, potencialidades e urgências. Para mim, que venho atuando e estudando a Saúde Digital como um fenômeno histórico e político, é inspirador ver como diferentes olhares se somam para mostrar que a inovação em saúde não nasce apenas de máquinas, mas de pessoas, territórios e saberes que se reinventam continuamente.
Programação do dia 04 de dezembro de 2025:





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