RNDS e Interoperabilidade: desafios, maturidade regulatória e oportunidades para o futuro da Saúde Digital no Brasil
- Adenilson Barcelos de Miranda
- 10 de dez.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 7 dias

Em 09 de dezembro de 2025, a Secretaria de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde (SEIDIGI/MS) realizou o Seminário InovaSUS Digital, um encontro dedicado à promoção da inovação, à colaboração institucional e ao fortalecimento das políticas públicas de saúde digital no Brasil. O evento reuniu gestores, especialistas, técnicos, empresários e parceiros estratégicos comprometidos com a modernização do Sistema Único de Saúde por meio da transformação digital.
No âmbito do Seminário, foram realizadas seis oficinas, entre as quais destaco aquela que participei como profissional do Departamento de Saúde Digital e Inovação (DESD/SEIDIGI) e que foi conduzida com excelência por Josélio Emar de Araújo Queiroz e Robson Willian de Melo Matos (CGIIS/DATASUS/SEIDIGI), contando também com a participação de Juliana Lopes da Silva (CGIIS/DATASUS/SEIDIGI) e de Luciana da Costa Feitosa (CGMA/DEMAS/SEIDIGI).
Os facilitadores utilizaram a Matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas) como metodologia para da oficina intitulada RNDS e Plataformas Digitais: interoperabilidade e padrões de informações entre sistemas de saúde. A Matriz CSD tem o propósito de alinhar compreensões sobre projetos, produtos ou serviços, reduzir ruídos de comunicação, identificar lacunas de informação e orientar decisões subsequentes. Aplicada ao debate sobre interoperabilidade e padrões de informação em saúde, a ferramenta permitiu explicitar consensos, reconhecer pontos que ainda demandam validação e mapear dúvidas estratégicas sobre os caminhos de evolução da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).

A atividade reforçou elementos essenciais para a consolidação de uma arquitetura nacional de saúde digital segura, eficiente e sustentável. As discussões evidenciaram que o fortalecimento da RNDS depende não apenas de avanços tecnológicos, mas também de maturidade regulatória, governança sólida, capacitação técnica contínua e da articulação integrada entre os diversos atores que compõem o ecossistema de saúde digital no país.
Maturidade regulatória: a lei como base para a inovação contínua
Um dos pontos centrais foi a necessidade de uma legislação madura e evolutiva, capaz de acompanhar o ritmo das transformações tecnológicas. Tal legislação deve garantir segurança jurídica para gestores, profissionais e fornecedores, criando um ambiente propício para a inovação e para a adoção de serviços digitais em todo o país.
A expansão de iniciativas da telessaúde foram mencionadas e na linha do horizonte a gestão de cirurgias e o apoio à alta complexidade que por meio da RNDS só se sustentam se houver uma base legal robusta que permita integração de dados, compartilhamento seguro de informações e padronização nacional.
RNDS como infraestrutura estratégica para a jornada do cuidado
A RNDS foi reafirmada como plataforma central de interoperabilidade do Sistema Único de Saúde, possibilitando uma visão longitudinal do cuidado e qualificando processos como:
acesso a laudos e exames em qualquer ponto da rede;
continuidade assistencial e coordenação do cuidado;
gestão estratégica baseada em dados;
monitoramento da alta complexidade e regulação.
Ao estruturar o fluxo de dados entre municípios, estados e União, a RNDS consolida-se como o eixo de integração entre políticas públicas, serviços e cidadãos.
Capacitação e profissionalização: o fator humano da interoperabilidade
A oficina reforçou que não há interoperabilidade sem pessoas qualificadas. Entre os desafios apontados:
no âmbito do MS garantir equipes técnicas dedicadas exclusivamente à RNDS;
fortalecer capacidades locais em municípios e estados;
valorizar profissionais de informática especializados em saúde nos territórios;
promover formações continuadas em padrões de informação e segurança.
A escassez de especialistas é um gargalo que precisa ser enfrentado com políticas de formação, carreira e incentivo.
Diálogo com o setor privado e inovação colaborativa
A interoperabilidade demanda um ecossistema colaborativo. Foi destacada a importância de abrir canais de diálogo com o setor privado, permitindo que empresas aportem conhecimento, tecnologia e soluções inovadoras. Essa cooperação deve respeitar princípios públicos, como segurança, privacidade e soberania de dados; mas pode acelerar a construção de padrões e de novas funcionalidades, como formulários hospitalares interoperáveis e soluções de apoio à gestão.
Qualidade dos dados e o impacto na Inteligência Artificial na Saúde
Outro ponto crítico foi a necessidade de fortalecer a qualidade dos dados. Dados incompletos, sem padrão ou inconsistentes impactam diretamente sistemas de apoio à decisão clínica e a performance de modelos de inteligência artificial, podendo gerar erros e reforçar iniquidades.
A oficina alertou que:
IA depende de dados robustos e representativos;
maior qualidade reduz “alucinações” e aumenta a confiabilidade;
a medicina personalizada precisa dialogar com a diversidade populacional brasileira;
consentimento informado, tanto do profissional quando do usuário, deve ser garantido.
Esse debate aponta para uma fronteira importante: a construção ética, segura e inclusiva da IA em saúde no Brasil.
Interoperabilidade como valor público: qualidade, economicidade e acesso
Os participantes reforçaram que investir em interoperabilidade não é apenas modernização tecnológica, mas uma estratégia de qualidade de gestão e economicidade. Dados integrados reduzem redundâncias, evitam exames repetidos, melhoram a regulação e ampliam o acesso a laudos e informações essenciais ao cuidado. Assim, a RNDS, quando bem estruturada, torna-se um ativo de alto valor público, articulando políticas de saúde, gestão inteligente e melhoria da experiência do cidadão. Nota-se que as questões levantadas durante a oficina são amplamente discutidas no Ministério da Saúde, o que demonstra alinhamento institucional e maturidade no debate.
Nesse contexto, a oficina atua como uma importante validação de que o caminho percorrido pelo MS é consistente, estratégico e orientado pelas necessidades reais do “ecossistema de saúde”, reforçando o compromisso contínuo com a interoperabilidade, a qualidade dos dados e a consolidação da transformação digital do SUS.






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